domingo, 29 de dezembro de 2013

 Aceito minha escuridão e aceito a escuridão do mundo sem tristeza.
-Ainda bem que chove, não é?
-Graças a Deus as coisas acabam. 
-Até os dias de sol. 
 Enquanto lia Tolkien, tinha uma inveja dos elfos... Que dá para fazer com uma vida eterna? Por mais que minha cabeça entendesse que viver para sempre não é tão bom, hoje entendi com o coração e todo o resto.
 "A morte é um presente de Ilúvatar aos humanos". Não poderia haver presente melhor. E eu aceito, deuses de todos os nomes, eu aceito a morte com o coração mais sincero que nunca tive para o morrer. 
 Ainda bem que chove e a roda gira.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

 Esse não é um post de verdade, é uma satisfação. Porque hoje alguém veio me perguntar o que eu tinha e minha resposta foi um choro.
 As pessoas têm dito que ando estranha e às vezes triste, mas não é verdade. Seja lá quem esteja lendo isso, saiba que estou sendo verdadeira. Tenho ficado confortável perto de pouquíssimas pessoas, é verdade, mas são elas quem eu procuro.

 Eu não sei por que tenho tido esses surtos. Eu percebi sim que estou ficando distante e sozinha, não preciso que me digam isso. Minha pessoa no meio de muitas, tecnicamente tem sido o mesmo que surtar, ter um nojo absurdo e um pouco de ódio. Tenho detestado coisas minúsculas.
 Detesto que falem comigo, que me encostem, detesto ouvir muitas risadas ou ver muita gente agitada. E é por isso que preferi mudar pro longe. É por isso que nunca respondo.
 Já tive raiva de quem me machucou e também já tive pena de mim por todos que têm me abandonado. Todos os ingratos que perdoei mas nunca esqueci; e também de todos os coitados que foram por minha culpa. Mas agora não tenho dó, não tenho pena, não tenho rancor nenhum, nem culpa, nem nada.
 Só odeio que tenham pena de mim. Odeio dramas imbecis e é por isso que guardei essas palavras por tanto tempo, apesar de meu corpo estar enviando essa mensagem há meses.
 Odeio que venham xeretar minha dor, não para me ajudar ou porque é meu amigo, mas "só para saber" ou porque se identificou com meu pesar.
 Não quero ajuda de ninguém, muito menos de quem colaborou para que eu esteja assim.
 Eu já sei que estou doente e já estou procurando a cura sozinha.

domingo, 6 de outubro de 2013

E eu não canso de pensar que não aguento mais humano. Tem gente demais e a Terra já está tão cansada como eu. A Terra é uma grávida que já não se aguenta e está louca para parir-se dessa gente. E eu fico ainda mais cansada de ver que o filho não sabe respeitar a casa da mãe. Que é só uma rebelião boba contra a força da própria vida.

E eu fico arrasada de ver que o homem usa a própria inteligência para acabar com ela. Dá a arma para se destruir. É ferido com a própria arma. E eu me arraso de ver que a defesa do ser humano na natureza, a inteligência, é uma maldição mais do que é bênção. Não posso me queixar de algo que é voluntário.
(Tenho vergonha e também conforto de ser irmã de Hitler, assim como tenho orgulho de ser irmã de Gandhi)

Tudo é apenas passa-tempo para quem vai morrer. Mas a responsabilidade permeia o prazer. Vivo esperando morrer. Talvez morrer seja puramente biológico: aconteceu e depois daqui, não tem mais nada. Pode até ser, mas seria bom ao menos ter consciência, nem que fosse de segundos, que agora tudo é silêncio.

Ou talvez seja um grande agregamento: talvez eu me junte para ser parte da natureza, do universo, do infinito. Eu seria uma inteligência, uma força, ou um deus. Eu seria uma metonímia; eu seria um pedaço desse todo que não existe: infinito. Uma grande e incrível metonímia, nem que discreta, nem que sem brilho.

E eu não entendo tempo, não entendo elétron, próton nem nêutron, não entendo zero, não entendo galáxia, buraco negro, outras dimensões. A escola define tudo isso, mas ainda que eu finja entender, ainda é abstrato, inexplicável, não faz sentido. E se não faz sentido, não consegue responder quem sou eu.
Porque antes de quem, preciso saber o que sou eu; o que além desse corpo que me prende, me limita.
Assim como não escolho estar com febre, não escolho pensar em coisas absurdas.
Instinto de sobrevivência me limita.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Estou com medo. Mas não de algo específico, estou com medo de tudo, tudo ao mesmo tempo, e precisei vir aqui antes que eu resolvesse matar todos medos de uma vez junto comigo.
Estou com medo de decepcionar, com medo de não ser tão boa quanto fui, medo de ter medo e não saber o que fazer.

Estou em pânico por tudo que sei que vou perder, mas pior está sendo perceber coisas que repudio acontecendo bem na minha frente e não fazendo nada, porque estou com medo de outras coisas enquanto isso.

Estou com medo de sair, medo de voltar, medo de nunca mais me chamarem. Não quero que me chamem.
Tenho medos egoístas: o que serão de meus livros? Eles, cujos dediquei e dedicarei minha vida, onde estarão quando eu morrer? Ninguém vai cuidar deles como eu.

O que vou fazer se precisarem de mim?
Tenho medo de ouvir um grito e não poder ajudar, estou com medo de animais sofrendo, medo de gente. Tenho muito medo de gente, porque gente sabe ligar televisão, gente sabe queimar árvore, gente sabe queimar gente, gente sabe torturar bicho!

Tenho medo porque gente sabe matar meus pais, sabe matar meus amigos, sabe humilhar.
Tenho muito medo de gente e de ser feia, porque gente sabe apontar e rir. Tenho medo de ser bonita, porque gente sabe violentar, tomar teu corpo como se não te pertencesse, usar dele como se entregá-lo não fosse uma escolha.

Tenho medo de fome, tenho medo de apanhar, medo de racismo, medo de homofobia.
Tenho medo de tudo acontecendo nesse instante, porque por mais que não aconteça comigo, está acontecendo com alguém.

Estou com tanto medo das coisas que penso, de quem convivo, não confio em mais nada.
Estou cega e tremendo.
Estou doente e morrendo.

domingo, 29 de setembro de 2013

Sinto falta de morar aqui, e acho que vou voltar. Eu ando muito mais orgulhosa desde que a Árvore morreu. Demais, até. Meu orgulho é quase doentio, e o que eu chamaria de personalidade forte está virando temeridade, grosseria, sustos malucos, um punhal. 

Sempre dá para ficar mais sozinho (e eu preciso tanto disso). Minha adolescência está acabando e eu não queria sair dela nessa violência toda comigo mesma. Vai ser difícil, mas vai ser melhor. 

Desisti de pensar em um monte de coisa, porque não tem sentido perder tempo com elas. Há coisas que só saberemos quando morrermos, então deixa estar.

Vamos todos morrer sozinhos. Mas viver um pouco sozinho me parece muito certo. 

Ela está sempre falando em saudade e eu sempre estou respirando meu orgulho.

A constelação está ao contrário. Acredite se quiser.
Eu sou tão distraída ou tão imbecil que, quando algo está na minha cara, eu não vejo. Depois de um tempo eu paro de olhar pro que está preso no mural. Parei de olhar pras estrelas do teto. Agora só deito e durmo. Estou sempre cansada demais para pensar.
Todas as estrelas se apagaram, só tinha sobrado aquela, bem pequena, que ligava tudo. Mas daí ela virou vento.

Não estou reclamando, já reclamei demais. Do vento, da escola, da rotina, das obrigações sem sentido, não poder ler tudo o que quero. Estou tentando parar com isso, de reclamar de tudo. Eu preciso é sossegar e me entender para tentar mudar tudo isso.

Preciso responder algumas pessoas. Mudar o mural. Comprar mais estrelas para colar lá em cima.

Ela bateu tanto, mas tanto na minha porta, querendo saber de mim. Eu nunca abri. Agora, por mais curiosa que esteja, cansou de tentar. E eu ainda não encostei na maçaneta.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Caeiro mandou Pessoa dizer:

Bendito seja o mesmo sol de outras terras
Que faz meus irmãos todos os homens,
Porque todos os homens, um momento no dia, o olham como eu.

E, graças a isso, eu finalmente não vou morrer sem conhecê-los.
O sol que nasce para eles, de tão longe, é o mesmo que nasce para mim.
Da primeira vez que vi o sol, eles já o haviam visto, banhado-se, feito cor.
A química só faltava se juntar. E o pequeno fauno já era gerado.