E eu não canso de pensar que não aguento mais humano. Tem gente demais e a Terra já está tão cansada como eu. A Terra é uma grávida que já não se aguenta e está louca para parir-se dessa gente. E eu fico ainda mais cansada de ver que o filho não sabe respeitar a casa da mãe. Que é só uma rebelião boba contra a força da própria vida.
E eu fico arrasada de ver que o homem usa a própria inteligência para acabar com ela. Dá a arma para se destruir. É ferido com a própria arma. E eu me arraso de ver que a defesa do ser humano na natureza, a inteligência, é uma maldição mais do que é bênção. Não posso me queixar de algo que é voluntário.
(Tenho vergonha e também conforto de ser irmã de Hitler, assim como tenho orgulho de ser irmã de Gandhi)
Tudo é apenas passa-tempo para quem vai morrer. Mas a responsabilidade permeia o prazer. Vivo esperando morrer. Talvez morrer seja puramente biológico: aconteceu e depois daqui, não tem mais nada. Pode até ser, mas seria bom ao menos ter consciência, nem que fosse de segundos, que agora tudo é silêncio.
Ou talvez seja um grande agregamento: talvez eu me junte para ser parte da natureza, do universo, do infinito. Eu seria uma inteligência, uma força, ou um deus. Eu seria uma metonímia; eu seria um pedaço desse todo que não existe: infinito. Uma grande e incrível metonímia, nem que discreta, nem que sem brilho.
E eu não entendo tempo, não entendo elétron, próton nem nêutron, não entendo zero, não entendo galáxia, buraco negro, outras dimensões. A escola define tudo isso, mas ainda que eu finja entender, ainda é abstrato, inexplicável, não faz sentido. E se não faz sentido, não consegue responder quem sou eu.
Porque antes de quem, preciso saber o que sou eu; o que além desse corpo que me prende, me limita.
Assim como não escolho estar com febre, não escolho pensar em coisas absurdas.
Instinto de sobrevivência me limita.
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